sexta-feira, 4 de março de 2011

A cleptomaníaca de corações

Ela era única. O sorriso parecia um dia ensolarado depois da tempestade. Seus olhos de um azul celestial eram misteriosos, quase impossível saber o que demonstravam. As vezes transpareciam felicidade impossível descrever, outras pareciam estar sofrendo, agoniando, como se vissem não a morte, mas sim a tortura eterna.  Sua pele era branca como a neve, dona das mãos mais queridas que me afagavam os cabelos. Seu abraço era como se nunca houvesse sentido nada tão mágico na vida, trazia paz, esperança, amor.
Quem a conhecia via em seus gestos e no seu rosto, alegria, amor e vida. Ela vivia, se esbaldava... Se apaixonava, e depois... se desapegava. Aliás, me parece que ela nunca se apegava. Sua relação com as pessoas que conhecia era demasiada empolgante, apaixonante, marcante. Mas depois de um tempo esquecia, ignorava... e voltava como se nada tivesse ocorrido.
Quem a conheceu, nunca a esqueceu. É hipnotizante. É droga que vicia. Tudo o que fazia era motivo de adoração. Podia-se observá-la a vida toda que nada os faltaria. Sua presença era contagiante, alucinógena. Era como que se quando estivéssemos com ela o mundo parasse, o coração se contagiava por uma alegria inexplicável. Pura magia, como ela mesma dizia.
Tinha alma de criança: sem preconceitos. E a malícia de mulher: amável e ao mesmo tempo perigosa. A cleptomaníaca de corações.
Quantas vezes me perguntei por que ela tinha um poder de persuasão tão incrível. Mas até hoje não encontrei resposta alguma para tal pergunta.
Eram finais de semanas calorosos, riamos nos divertíamos de maneira que o mundo parecia um lugar melhor, não existia o mal, apenas amor despreocupado, a amizade. Era com o olhar que conversávamos. Existiam muitas pessoas com nós, mas sempre era eu e ela, apenas. Apenas nossa amizade nos bastava.
Muitas pessoas diziam que éramos iguais, pensamentos iguais, planos iguais, personalidades iguais. Realmente nos completávamos. Mas não de forma humana, era algo além do ego e dos caprichos humanos, era espiritual. Éramos não só amigas, éramos um o espelho da outra, de certa forma.
 Penso que muito pouco entendo sobre mim mesma, olho para meu espelho e não entendo a sua busca, não entendo porque sofre. Queria eu poder extinguir toda a dor de seu coração e poder libertá-la para a vida.
Talvez seja esse o meu desafio. Hoje sou só o seu passado. Guardado em uma caixinha esquecida lá dentro do coração.

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